acabo de ler a terceira margem do rio, de Guimarães Rosa
pai, eu não sei o que eu sinto por você
você é minha maior contradição
minha força e meu caminho
meu ponto fraco e meu descaminho
é pra você que eu volto chorando
é de você que eu fujo sem rumo
você me pediu uma camisa do vasco
e chorou, antes de sair pro trabalho
era seu melhor presente da vida
você disse, chorando
como quem não chora
e não desceu uma lágrima
naquele dia, em que você chorava
é você que eu culpo
quando mãe fala o quanto tá difícil
sua ausência
é você que defendo
quando sua história vem na memória
você me deixou as melhores marcas de mim
todas as dores, boas e más
você me deixou as piores marcas de mim
minhas defesas emocionais
aprendi com você
tá tudo errado, pai
eu descobri
tarde demais
"Sem alegria nem cuidado, nosso pai encalcou o chapéu e decidiu um adeus para a gente. Nem falou outras palavras, não pegou matula e trouxa, não fez a alguma recomendação. Nossa mãe, a gente achou que ela ia esbravejar, mas persistiu somente alva de pálida, mascou o beiço e bramou:
- "cê vai, ocê fique, você nunca volte!"
Nosso pai suspendeu a resposta. Espiou manso para mim, me acenando de vir também, por uns passos.
"- Pai, o senhor me leva junto, nessa canoa?"
Ele só retornou o olhar em mim, e me botou a benção, com gesto me mandando para trás."
(Guimarães Rosa, A terceira margem do rio)
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